Tem horas que paro pra pensar em tudo o que me aconteceu e acho que sonhei a maioria dos fatos que minha lembrança traz. Nasci num lar pobre (quando nasci, mamãe e papai nem colchão tinham na cama, dormiam sobre lonas colocadas para atenuar a ação das molas nos corpos cansados dos dois). Fui o sexto (e último) filho, que tinha ainda em casa mais três agregados: tio João, tia Ambrosina e a filha desta, Neusa. Os dois eram irmãos mais velhos de minha mãe, mas contavam com a condescendência de meu pai. Lembro-me, bem pequeno, quando meu irmão Wilson operou a garganta (hoje não se faz mais isso?) e mamãe precisava pedir para a vizinha (acho que era dona Elza) colocar os sorvetes que ela fazia para ele (só podia tomar gelado) na geladeira dela. Nós ainda não tínhamos uma geladeira em meados da década de 60.
A minha foto no trator (que reproduzo aqui) é desta época (acho que 1966). Lembro-me bem de algumas coisas: o rádio dominava a casa e eu adorava ouvir alguns programas junto com mamãe. Desta época, haviam as novelas (nunca me esqueço de uma, de autoria da grande Ivani Ribeiro, que se passava no Egito Antigo, que ouvi por volta de 1969 a 1970). Mas mamãe adorava programas de humor e eu ouvia a Turma da Maré Mansa (acho que na rádio Globo do Rio de Janeiro), o Balança Mas Não Cai (da Nacional), além dos radioteatros da Nacional, que se tornaram mania pra mim enquanto existiram, na década de 70. Um nome que não me sai da cabeça é Hélio do Soveral, ator, diretor e roteirista deste programa. Na década de 70, marcou-me a adaptação de "Éramos Seis", além de um "Teatro de Mistério", sempre com tramas de detetive. Na década de 70, costumava acompanhar na rádio Sete Colinas, de Uberaba, uma novela. "Uma Rua Chamada Coração", cujos protagonistas era uma turma de amigos numa rua com o nome da novela, me fazia viajar...
Voltando à década de 60, quando tinha uns quatro anos, lembro-me da família reunida na mesa do café da manhã, numa cozinha enorme que tínhamos (aliás, na Usina Junqueira, os cômodos de todas as casas eram grandes), com toda a família em volta da mesa. Mamãe, no fogão de lenha (que ela mantinha impecavelmente limpo e encerado), fazendo o café, fervendo o leite e muitas vezes fritando bolinhos de chuva ou assando bolos deliciosos (e até uma broa de milho inesquecível). Todos alegres, como meu irmão Eurípedes (que chamávamos Pim), imitando o comediante Tutuca (ainda hoje na ativa), um grande sucesso no "Balança Mas Não Cai". O Hamilton (Pitcho) sempre falando de suas conquistas (era metido a galã) e o Wilson sempre estudando. Gérson, Luci e eu cutucando um aos outros.
Uma das coisas das quais me lembro desta época é que tínhamos sempre que ter uma lâmpada de 60 velas (como meu pai falava) acesa durante a madrugada, pois o meu irmão Gérson tinha um troço com a falta de energia (dizia que estava se afogando e outras coisas). Como era difícil ocorrer na Usina uma falta de energia, a lampadazinha cumpria seu papel, inclusive iluminando o caminho para o banheiro durante a madrugada. À noite, voltávamos a nos reunir em torno do rádio para ouvir as notícias (naquela época, não me interessava muito), os programas de humor e rádio-teatro das rádios de São Paulo e Rio de Janeiro. No máximo às nove da noite, as crianças (Gérson, Luci e eu) tínhamos que estar na cama.
Nos domingos, após o almoço simples mas farto, sempre papai acompanhava jogos do São Paulo com narradores como Fiori Gigliotti, Pedro Luís ou Geraldo José de Almeida. O primeiro ainda está firme na profissão... Quando estava chuvoso, eu vibrava. Significava que à tarde, mamãe fazia o seu café (doce e forte) e pipocas ou então bolinhos de chuva deliciosos. Eram tempos tranqüilos, quando podíamos dormir com portas e janelas abertas e o único medo que tínhamos eram de assombrações. Havia uma única disputa que havia era dentro de casa (a guerra do Vietnã e o golpe de 64 estavam distante pra nós): papai e mamãe, quando tinham apenas os três primeiros filhos, entre oito e quatro anos, inventaram de praticar jiu-jitsu. Eurípedes torcia pra mamãe, Hamilton pro papai e o Wilson, o menorzinho, ficava de cara fechada, não gostava de ver os dois brigando. E esta disputa entre os dois só acabou quando mamãe aplicou um golpe em papai, percebendo que sua cabeça bateu a poucos centímetros de uma pedra pontuda. Depois disso, ficou apenas uma, sobre as preferências musicais: papai era Marlene e mamãe Emilinha.
6 comentários:
Nossa infância é uma das coisas tão gostosas de serem lembradas que, qdo eu era criança meu pai tinha sempre um brinquedo criado por ele, pra que a gente pudesse brincar e ver aquele belo sorriso de contentamento, de saber que o brinquedo q ele fez trazia a alegria e a felicidade vinda de dentro do seu coração.
Fase muito boa de apenas, pensar em brincar, correr, rir e sonhar...
Bjão Amor meu...
Sidnei, vi seu comentário no meu Tricotando e estou de volta ao seu blog. Fase mesmo muito boa a da infância, como disse sua esposa. A única responsabilidade que tínhamos era com as brincadeiras, que eram coisas sérias! Ai de quem ousasse atrapalhar. Eu não respondia, mas em compensação chorava e gritava! Os gostos dos meus pais para música sempre foram muito diferentes: meu pai - música clássica e minha mãe -rock (Elvis Presley); pode isso?!
Um abraço.
UM ABRAÇO E PARABÉNS POR SUA BONITA HISTÓRIA!
"papai era Marlene e mamãe Emilinha."
E papai era Vasco, mas para evitar problemas com a família de mamãe, virou tricolor,
Sabe, Sônia, que futebol nunca foi motivo de disputa entre mamãe e papai? Ele era sãopaulino e legou a preferência a dois filhos; outros dois (Eurípedes e Gérson) eram corinthianos e eu e Wilson sempre fomos santistas. Só não havia palmeirense na família!
oi...mais uma vez eu aqui babando em suas historias..a gente percebe que vcs eram de uma familia pobre como vc disse,vcs ao tinham muitas coisas materias...mais tinha amor,carinho,admiraçao e respeito...olha so, vc era e e rico e nao sabia...claro que sabia,pois isto esta ai detro de vc,em cada pedacinho da sua vida...adorei...beijos....Hebe
obs..eu jamais poderia falar sobre a miha infancia..pois nao lembro dela...estranho e...
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