15 de agosto de 2005

OS CONSELHOS DO "SÊO" SEBASTIÃO

Já contei histórias de minha mãe por aqui mas pouco falei de meu pai. "Sêo" Sebastião, ídolo da molecada da Usina Junqueira por ser técnico do futebol de salão: no time dele entrava só quem ele aceitava e ele determinou uma série de regras. A molecada que jogava peladas nos rapadões que lá existiam (o Maracamboi, do Boizão, ali na rua um; e o Maracandal, do Pardal, na Higienópolis) não entrava no time (e ele tinha os seus "olheiros" para avisar quando tinha algum do futebol de salão se esfalfando num dos dois campinhos: ele ia ver na hora e cortava os insistentes. Nem imaginava que eu era um dos goleiros assíduos no Maracamboi. Mas eu tinha um truque: só jogava nos dias e períodos em que ele estava trabalhando. E só eu sabia a hora. Os moleques iam lá em casa avisar e nunca o encontravam. Meu pai era uma pessoa bastante sistemática (como comissário de menores, adorava 'confiscar' baralhos dos "de menor" que encontrava jogando; vi vários jogos amarrados numa gaveta que ele tinha), mas tinha seus momentos de humor, algumas vezes cruel. Foi o que aconteceu quando ele, assistente de fabricação (revezava com o Geraldo Dedão e mais outro na função, cujo nome não me lembro), comandando um dos turnos durante a safra, foi procurado por um dos trabalhadores temporários que moravam "nos quartos" (habitação coletiva ao lado da casa do Geraldo Dedão, que ficava em frente ao posto de gasolina), que perguntou qual a melhor maneira de desinfetar um pente Carioca, de plástico, que ele achara. Meu pai respondeu na bucha, sem dó: "Ensopa de álcool e coloca fogo". E foi o que o cara fez, diante das gargalhadas do meu pai ao ver o pente se entortar e derreter. O coitado nada podia fazer (o assistente de fabricação era quase um gerente na época da safra) e ficou calado, com medo de manter o emprego. E meu pai retrucava, quando alguém aludia à maldade: "quem mandou ser burro?"...

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