15 de agosto de 2005

O SUSTO DE MEU AVÔ

Quando lembro-me de minha mãe falando do pai, João Jacintho de Oliveira, percebo que ela ainda demonstrava muito amor por aquele que morrera antes de conhecer todos os netos (filhos dela, que foram seis; ele só conheceu o primeiro, meu irmão mais velho). E a morte daquele paraibano - pai de uma penca de filhos que perdeu cedo a esposa e a fortuna que pôde desfrutar apenas por poucos anos, mas manteve o respeito dos filhos que acabaram espalhados cedo para casas de parentes - marcou muito dona Altiva. Minha mãe, então com 12 anos (era então 1934), fora morar em Igarapava (nasceu em Cristais Paulista, a poucos quilômetros de Franca), na casa de uma tia. Tudo isso para apresentar o personagem principal dessa história, meu avô, apelidado de João Beque por causa de sua posição n o futebol (beque central) no time de Cristais. Na Usina Junqueira, meu avô se tornara tratorista. Nos idos das décadas de 40-50, não existia muito este costume de se procurar um banheiro por causa de uma dorzinha de barriga, de um mal-estar estomacal ou mesmo na hora do aperto. O negócio era se aliviar no mato mesmo. E meu avô, no meio do mato, nem pensou duas vezes: desceu as calças e se aliviava ali mesmo, quando ouviu: "pára, senão te prego (sic) a faca". E a frase se repetia, cada vez mais perto, fazendo com que meu avô deixasse de lado a necessidade e ouvisse a voz do medo. Tentando enfiar a calça e correr ao mesmo tempo, estabacou-se no chão, ficando numa posição humilhante, mas que permitiu que ele visse o autor da ameaça correndo atrás de um garoto que havia roubado umas espigas de milho na lavoura do dito cujo. Aliviado por um lado e com cólicas de outro, João Beque contava esta história ilustrando sua mania de nunca mais ir lá no matinho fazer as suas necessidades.

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