16 de agosto de 2005

CORRENDO DA VACA

Hoje, vendo a Drica toda vestida de vermelho e ouvindo a Preta dizer: "se aparecesse uma vaca aqui...", lembrei-me de um fato ocorrido quando eu deveria ter cinco ou seis anos. Quem morou na Usina Junqueira nos finais de 60 e início dos 70 deve saber do que vou falar. A casa que os dirigentes da Fundação Sinhá Junqueira tinham à sua disposição, perto da Fazenda São Geraldo, era uma imensa propriedade que chamávamos residência, onde, além de um pomar que frutificava poncãs e laranjas doces como mel, tinha imensos pastos à sua volta cercados apenas de arame farpado e moirões. A residência em si (incluindo os pomares) tinha um muro altíssimo e poucos se atreviam a entrar lá. Mas, sabe como é pobre, sem televisão e mais nada para fazer no domingo: toca a andar sem rumo, atravessando estradas poeirentas e pastos cheios de carrapichos (as roupas ficavam uma beleza!). Numa destas saídas domingueiras, depois da macarronada sagrada de domingo, fomos quase todos "passear": papai, mamãe e todos os seis irmãos. Atravessamos o "retão" (que ligava a Usina a São Geraldo), quando papai teve a boa idéia: ver um bambuzal que existia ao lado da "residência", perto do muro do pomar. E, como quando "sêo" Sebastião falava, ninguém retrucava, lá fomos nós. Antes preciso colocar uma explicação: enquanto eu era chamado de "coisinha" por minha irmã, de tão pequeno que era aos cinco anos de idade (quem diria, heim?), papai e mamãe, na época, exibiam rotundas silhuetas. Depois de passearmos pelo bambuzal, no meio do pasto, já marchando de volta, eis que surge a danada: uma baita vaca preta que, com certeza, deveria ter parido recentemente, pronta pra defender seu novilho. E nem vacilou: partiu pra cima do grupo e foi pernas pra que te quero... Papai, arrastando Luci, conseguiu voar por sobre o arame farpado com a agilidade de um Sergei Bubka. Mamãe, também, parou do outro lado sem arranhão (ainda hoje tento imaginar como ela pulou). Gérson, Hamilton e Wilson, jovens e ágeis, passaram pela cerca sem problemas. Eurípedes, que na correria arrastou-me com ele, segurando-me como a um brinquedo de pano, saltou pela cerca sem colocar as mãos. Nem ele conseguia saber como. Mesmo sendo magro, tentou outras vezes a façanha mas sem uma vaca na perseguição, nunca mais conseguiu saltar uma cerca de arame farpado sem usar as mãos.

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