7 de novembro de 2017

REFLEXÕES DE UMA TARDE DE TERÇA-FEIRA

Este texto publiquei no Facebook no dia 19 de agosto de 2014 e acho oportuno repeti-lo aqui:


Hoje muito se fala na qualidade da educação, da má-formação de professores, da falta de incentivo aos profissionais que atuam nas escolas e no desinteresse dos alunos. Quem é acostumado a acompanhar o noticiário, acompanha entristecido as notícias de agressões entre alunos, ataques e ameaças a professores, enfim uma baderna geral. No meu tempo de estudante, isso há quase cinquenta anos, o aluno (eu no caso) saía de casa (onde eu morava, Usina Junqueira) pedindo a bênção de pai e mãe, seguia (sozinho), andando para a escola, passava na casa do sêo João Nirschl, comprava um dos pirulitos deliciosos e seguia para a escola (muitos deixavam para comprar na volta). Na sala de aula, o professor era autoridade máxima: mandava prender e mandava soltar, como ainda se diz hoje. Não os chamávamos de "tio" e "tia"; era senhor ou senhora (ou dona) antes do nome. Respeitávamos, ouvíamos e se não aprendíamos, não tinha choro e nem vela: bomba na certa. Tínhamos hora pra estudar e pra brincar. Ninguém falava em droga (a gente nem sabia que existia!). Era como tinha que ser: os professores ensinavam, os pais educavam. Se queríamos dinheiro, podíamos fazer alguns trabalhinhos na vizinhança (lavar alpendre, aguar plantas, cuidar de meninos menores) que ninguém falava em trabalho infantil. Eu vendi picolés na porta do Grupo "Coronel Quito", no campo de futebol aos domingos, quando também vendia laranjas ou mexericas poncãs (quando era época), ou os salgados (quibe, pastel, torta de sardinha ou pão com mortadela) que minha mãe fazia e que depois passou a vender na cantina da quadra em dia de jogo (futebol de salão, com meu pai de treinador, e basquete, treinado pelo Nicolau e com craques como Samuel Pereira Fortes e seus irmãos. Nunca morri por isso... E aprendi dar valor ao trabalho, ao aprendizado constante e ao respeito ao próximo. A música entrou cedo na minha vida, sempre tínhamos um rádio ligado em casa e não me lembro de qualquer música que incitasse à violência contra o semelhante. Não tinha computador, telefone ou televisão (só "televizinho", na casa do sêo Bolão (pai do Samuel acima citado) ou do sêo Getúlio Manso, que morava em frente a minha casa. A gente assistia do alpendre, com a janela aberta e a TV estrategicamente colocada. Mais tarde, quando me mudei para a Praça Sinhá Junqueira, a Pracinha, assistia na casa do seu Orlik Pinheiro, ao lado da minha irmã e da Mércia Pinheiro, que eram muito amigas, e do Orlik Júnior, o Dunga. Corríamos na rua, jogávamos bola na quadra (meu pai era treinador e só me deixava treinar, nos dias de jogos eu era o juiz, com meus 10, 11 anos), íamos aos domingos, quando papai estava de folga, pescar no Rio Grande (haja lambari no Pacaembu; só quem é da Usina Junqueira pode saber). Nos domingos, ouvir a banda da Usina tocar no coreto da praça, primeiro sob a regência do sr. Ettore e, depois, do Artur, na qual tive oportunidade de tocar mesmo com 11 anos (nunca passei do surdo!). E a minha mãe, Altiva, vendendo balas, chicletes, pipocas e caixinhas da sorte num dos bancos em frente do Coreto, à esquerda da estátua do Coronel Quito. Tudo isso ajudou a me moldar no que sou hoje, prezando a honestidade e a sinceridade. Conhecendo o valor do trabalho e da respectiva remuneração. É um mundo que não existe mais e que, se voltasse, com certeza estaríamos muito melhores do que agora.

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