Para todos os que se sentem discriminados, abalados, deprimidos e subestimados... E para quem nasceu e quer conhecer histórias e personagens da Usina Junqueira. E com um pouco de humor, também, que ninguém é de ferro!
16 de agosto de 2006
UM ANO DE SAUDADE
Um ano atrás, no dia 19 de agosto, publiquei aqui um artigo que tinha escrito um dia antes para o Comércio que, no fundo, nunca queria ter escrito. Era uma despedida a uma pessoa que estava acostumado a encontrar nos últimos 25 anos de minha vida quase que diariamente. Foi uma perda irreparável não só para mim mas para todos os que compartilhavam de sua proximidade, incluindo aí todo o município de Franca, a morte do jornalista Corrêa Neves. O mesmo Corrêa Neves que conheci no dia 28 de junho de 1980, um sábado. Foi a primeira vez que o vi e, nos 25 anos seguintes, tivemos uma convivência estreita que, além da relação patrão-empregado, acabou se tornando uma relação pai-filho, irmão-irmão, amigo-amigo. Não vou dizer aqui e sempre foi tudo às mil maravilhas. Mas foi uma convivência normal, entre duas pessoas que se respeitavam e que tinham o mesmo propósito: fazer o melhor jornal possível dentro das limitações da época, tanto tecnológicas quanto de material humano. Corrêa Neves foi um grande professor, responsável por toda a minha formação profissional. Foi quem deu-me todas as chances de aprender e crescer dentro do Comércio. Ensinou-me e transmitiu-me toda a sua experiência de repórter e jornalista — e ele sempre dizia que era, antes de tudo, repórter. Um dia, disse-me a razão de nossa relação (mais do que profissional, volto a destacar) ter dado certo: "Sidão (como todos me chamam), enquanto eu coloco fogo você vai lá e apaga". Pois era assim: Corrêa Neves, o sêo Corrêa, era mesmo intempestivo e apaixonado pelo que fazia. Se não gostava de alguma coisa, deixava bem claro, sem se preocupar com as conseqüências. E muitas vezes, eu acabava contornando o problema. Por isso, aquele dia 18 de agosto está indelevelmente marcado dentro de minh'alma como um dos mais doloridos de toda minha vida. Ver inerte, dentro de um caixão, o homem vigoroso, que não se detinha diante dos obstáculos, foi doloroso. E, até hoje, não me furto a lembrar de suas ações e das muitas histórias que me contou. Hoje, sem Corrêa, ainda continuo aqui, vendo seu filho Corrêa Neves Júnior (que conheci quando garoto) seguindo os passos do pai, com as mesmas determinação e paixão pelo Comércio e pela cidade. E também dona Sônia (Machiavelli Corrêa Neves), a quem admiro a cada dia mais pela capacidade, inteligência e, sobretudo, afabilidade. Eu e o Comércio continuamos juntos, um ano depois, sentindo falta daquele que foi tão marcante em nossas vidas. Confesso que nos últimos meses de sua vida, não o vi. Não suportava a idéia de ver debilitado aquele homem que chegava ao Comércio ainda de madrugada, para acompanhar a impressão e distribuição do jornal aos entregadores e banqueiros, saindo muitas vezes só na madrugada seguinte, depois de acompanhar todo o processo de produção, dos anúncios ao fechamento da primeira página. Acovardei-me, de uma forma que Corrêa Neves não faria. Esta foi uma de suas lições que, infelizmente, não aprendi.
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