Para todos os que se sentem discriminados, abalados, deprimidos e subestimados... E para quem nasceu e quer conhecer histórias e personagens da Usina Junqueira. E com um pouco de humor, também, que ninguém é de ferro!
2 de setembro de 2005
NOSTALGIA
Há dias em que a gente acorda nostálgico. Estou assim há dias e, lembrando-me da infância, tento trazer de volta aqueles tempos alegres e despreocupados que, certamente, não voltam mais. Ao Marco, uma observação: temos que viver sem eles, aprendemos a viver sem eles, mas nunca nos acostumamos. Os fatos (e coisas boas) da infância nunca nos deixam. Nem a falta de memória que a diabetes me brinda é capaz de transformar a realidade. Hoje, estive pensando em minha mãe. Daquelas manhãs meio frias em que encontrava, sobre a mesa ao lado da garrafa de café forte, uma leiteira cheia de leite fervido. Era o seu famoso leite com açúcar queimado que ainda hoje remete às manhãs daquele tempo. Ou então quando mamãe resolvia reunir os filhos em torno dela e passávamos a tarde chupando laranjas estupidamente doces (que ela buscava na "residência", na fazenda São Geraldo, num saco de linho que trazia às costas por todo o trajeto) que ela descascava e brindava os filhos. Ou então, quando comprava refrigerantes e fazia um buraco na tampa, com um prego: era a forma como gostávamos de beber as "maçãs" (que a maioria conhece por tubaínas) da época. Mamãe também gostava de descascar cana para os filhos chuparem. Mas o que mais faz sua lembrança vívida é um brinquedo que ela costumava fazer para os filhos e que causavam inveja aos amigos, pois na época só existiam similares caros: o caleidoscópio. De vez em quando, ela cedia e vendia alguns diante das insistências. E ela fazia o instrumento apenas com um rolo de cartolina, espelhos, uma rodela de plástico e pedaços pequenos de plástico e outros materiais coloridos. A gente perdia tempo vendo as mais variadas (e lindas) imagens se formarem naquele brinquedo que fazia a nossa alegria. Aliás, a minha primeira pipa (ou papagaio ou pandorga ou quadrado ou índio) foi feita por ela. Fora os caminhõezinhos cujas rodas eram carretéis de linha confeccionados em madeira. Mamãe era assim: mãe em tempo integral de seis filhos, os quais ainda ajudava com desenhos primorosos nos cartazes que os professores pediam como trabalhos extras - sua especialidade eram animais, que ficavam perfeitos. Eu credito a ela todas as escolhas que fiz em minha vida: ela me incentivou quando percebeu minha facilidade em ler e escrever, comprando revistas e livros porque eu gostava de ler. Foi uma das minhas primeiras leitoras (e ela era uma leitora voraz e entusiasmada) e incentivadoras. E tinha orgulho em falar do filho jornalista. Pois acho que só retribuí ao que ela incentivou, ao encontrar terreno fértil para que aflorasse minha paixão pelas letras e pelo jornalismo. Hoje, eu é que me sinto orgulhoso por ter tido a dádiva de compartilhar de sua capacidade e inteligência ao meu lado por 31 anos. E sinto não tê-la tido mais comigo. E não a esqueço, pois sei que de onde ela está, estará, com certeza, ainda me incentivando e lendo tudo o que escrevo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
oi....com certeza onde ela estiver ela estara sempre olhando e tendo orgulho de ter um filho como vc...como ja disse em outro comentario é lindo essa sua forma de valorizar tudo o que sua mae fez por vc...e que vc cotinue a ser essa pessoa especial com um coraçao enorme que dona Altiva ajudou a modelar e tao bem...beijos...Hebe
Postar um comentário