17 de setembro de 2005

MAMÃE E A IGREJA CATÓLICA

Embora fosse espírita e médium, minha mãe nunca teve nada contra a Igreja Católica. Mas não admitia certas atitudes que alguns padres tomavam quando chegavam à Usina Junqueira, querendo submeter todos à religião, condicionando as (poucas) diversões que existiam na Usina à participação nas missas. E minha mãe pensava que não era assim. Depois que meu pai mandou o padre enfiar a Capela de São Geraldo naquele lugar (por serem casados só no civil, resolveram casar meus pais na Igreja e, ao saber que seria obrigado a se confessar, sêo Sebastião, que era contra a idéia, proferiu o impropério que ecoou por toda a nave, horrorizando algumas beatas que existiam por ali), os dois passaram a alvo de toda e qualquer ação do padre da época.
Na década de 50, conforme já contei pro Luizinho Lucas, o padre ficava na porta do clube (que ainda era do lado da quadra) e só podia assistir ao filme de domingo quem tinha ido à missa. Mamãe mandou os três filhos maiores (Eurípedes, Hamilton e Wilson) e ficou em casa costurando. Logo depois, os três retornavam, decepcionados, o Wilson até chorando. Ao saber da atitude do padre, pegou os filhos pela mão e mandou-se para o clube, a dois quarteirões de casa. Chegou na porta e "peitou" o padre (vários meninos estavam por ali, barrados que foram), querendo saber a razão de seus filhos não poderem assistir ao filme.
Diante da resposta, dona Altiva redargüiu e, com uma inacreditável para quem tinha pouco estudo (ela começava a falar e não dava chance ao antagonista de retrucar... e tinha uma retórica impressionante), disse que a exigência era absurda, já que seus filhos não eram católicos. E arrematou: "vou entrar com meus filhos e quero ver se vc, seu urubu, vai me barrar. E nem tente, porque o mando longe com um safanão". E entrou, ouvindo ainda a molecada na porta gritar "Urubu, Urubu, Urubu" pro padre, que não teve outra opção do que atravessar a rua e entrar na casa paroquial. Depois deste dia, nunca mais houve restrição a quem quer que fosse por causa da Igreja Católica. E, por causa disso, sempre que podia o padre (e os que o seguiram) procuravam encrencar a dona Altiva, nunca conseguindo.
De outra feita, já na década de 70, resolveu-se fazer uma grande festa junina na Usina Junqueira, sob os auspícios da Igreja. Organizada pelo "sêo" Moisés e pela esposa do seu Raul da Farmácia, que também era fotógrafo, começaram os ensaios. Eu e minha irmã aprendemos logo todos os comandos e passos e passamos a liderar o grupo. Sêo Moisés, inclusive, nos utilizava para treinar novos pares que apareciam depois que os ensaios estavam adiantados. À certa altura, veio a ordem: Sidnei e Luci não podem participar da quadrilha porque não vão à Igreja, não são católicos. E sêo Moisés foi firme: "se eles saírem, saio também"!
A quadrilha aconteceu (acabei virando o delegado do casamento caipira; a filha do "sêo" Raul era a noiva), foi um sucesso e nos apresentamos até em Igarapava. A morte do sêo Moisés não foi suficiente para acabar com a festa, que realizamos por três anos consecutivos. No último ano, Luci, já adolescente, não quis participar, não encontrei uma parceira à altura e só auxiliei na organização e fiz as vezes de padre e juiz de paz, além de emprestar o disco com as músicas da quadrilha (que nunca mais vi, pois logo em seguida nos mudamos para Franca). Não sei se tudo continuou depois, mas ainda lembro-me dos fornos da padaria lotados de amendoim e as panelas enormes em que se estouravam pipocas. Uma festa para os olhos e também para a barriga, porque ninguém é de ferro...

3 comentários:

Anônimo disse...

oi..que horror vc ser barrado,vc ser excluido por nao fazer parte de uma religiao...que exemplo heim de uma igreja...acho que temos o direito a escolha,seja ela qual for e ser respeitados poor isso...pois ninguem é melhor do que ninguem por ser isso ou aquilo...sua mae esta de parabens por nao ter deixado seus filhos passarem por isso....mulher de fibra...nossa amo cada pedacinho das suas historias...te encontrei viu,rsrs...beijos...Hebe

Anônimo disse...

Meu maridão é meu amor....
Sou mto feliz por vc ser minha alma gêmea...
bjo

Anônimo disse...

Infelizmente os membros de várias religiões usam a sua fé como meio de oprimir e discriminar pessoas. Sua mãe não podia ceder, claro.