15 de agosto de 2005

VISÃO DO INFERNO

VISÃO DO INFERNO!

Minha irmã diz que estou ficando velho e turrão. "Você está inflexível", reclama. Mas não é isso. Se Dante tivesse se visto no meio de um baile de carnaval, uma matinê domingueira, teria forçado mais a mão em seu Inferno. É, realmente, dantesco! Além de uma banda tocando milhares de decíbeis acima aquelas tais "axé music" (se não jogar a mão pra cima e mexer a bundinha, não é da safra), irritantemente idiotas e estranhamente populares, somos obrigados a ver, além de uma molecada totalmente fora de controle (Carnaval é ou não é coisa de louco?), alguns pais solteiros, com o uniforme do titio Sukita (tênis tinindo de novo, meia social, bermuda de brim e camisa de botão de mangas curtas - alguns ainda levando um agasalho às costas), esticando os olhos pras garotinhas de plantão. Outros, nem tão depravados, vão atrás das mamães sozinhas. Usam o baile para namorar. E o uniforme (camisa, bermuda, meia e tênis) continua o mesmo. E a molecada solta, jogando confete na boca dos outros (esperam o incauto conversar e atiram a papelada bem na garganta). Agora inventaram uma serpentina em espuma que serve pra tudo, menos divertir: nos olhos, arde pra burro (minha filha baixou no Pronto Socorro); na boca, um gosto horrível. E quando acaba, piora: o moleque quer mais e mais. E dá-lhe um berreiro infernal (Manhê, Paiê!). E toca a separar moleques se engalfinhando, estapeando por causa de um spray. Nessa altura, ninguém está mais prestando atenção ao baile: pais e mães azarando, crianças se engalfinhando, jovens procurando um lugarzinho mais escondido para "ficar" e todo mundo alheio ao que o grupo canta. Aliás, até valsa acaba virando samba. E ninguém se dá conta. Tem hora que os adultos estão se divertindo mais do que as crianças. No salão, meia dúzia de garotos pulando como doidos, suando em bicas e se esforçando pra mostrar aos pais que merecem voltar no ano que vem... É ou não é uma visão do inferno?

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