15 de agosto de 2005

UM DIA DE CÃO

Pois é. Sabe aqueles dias em que você não deveria ter saído da cama? Pois foi hoje. Botei o pé (esquerdo) no chão e vi que meu cachorro tinha comido um dos meus chinelos (de couro, novinho, que um amigo me trouxe da Itália). Resmungando, tirei o pijama e entrei no chuveiro: abri a água e só depois daquele jato gelado nas costas, que me deixou sem fôlego, percebi que não havia luz. Abri a geladeira e nada vi que prestasse: tudo estragado. Com isso, saí sem café (sem energia, nada de cafeteira e microondas num flat, não). Saí correndo e ao chegar na garagem, dois pneus de meu carro arriados. Com a ajuda do zelador, troquei e assim que saía fui violentamente abalroado por um Fiat 147 dirigido por uma velhinha. Mais de uma hora depois consegui chegar ao trabalho, com o estômago embrulhado com o café do boteco da esquina: nunca vi nada pior. Logo que assumi meu posto, atrasado, fui chamado pelo chefe: bilhete azul. Demissão sumária {"Estamos em contenção de despesas e como você se atrasou hoje, foi o meu escolhido. Poderia ser qualquer um", disse-me o canalha). Recebi um telefonema: minha noiva me abandonara e fugira com o psicanalista dela, limpara minha conta no banco e também levara as jóias e a TV, vendendo ainda as ações que estavam no cofre e se apoderando dos dólares que eu tinha guardado para minha viagem a Nova York. E o pior: ela ligou para avisar já do aeroporto, esperando o vôo para os Estados Unidos. Recebi um telefonema do meu advogado: vários títulos estavam indo a protesto. O gerente do meu banco ligou também: estava no vermelho e indo pro cadastro de inadimplentes. Pouco depois, a loja avisou: iria buscar meu caro porque as prestações estavam atrasadas há seis meses (aquela bandida deixou de pagar e embolsou a grana! É o que dá em confiar numa garota que se conheceu num bar de solteiros). Depois, ligou-me o caseiro de meu sítio: o cafezal foi queimado pela geada, a aftosa atacou o pouco gado que eu tinha e o MST tinha invadido a propriedade. Então, resolvi não facilitar e, diante dessa maré de azar, dar um jeito de morrer direitinho. Fui pra margem do rio (não sei nadar), amarrei a corda numa árvore, passei pelo pescoço, tomei um copo de veneno e empunhei um revólver. Quando pulei, ao sentir o aperto no pescoço, levei a arma pra cabeça e atirei: a bala acertou a corda e cortou. Ao me afogar no Rio, acabei vomitando todo o veneno que tinha tomado e um pescador, que passava por ali numa canoa, me resgatou, levou pra margem e me ressuscitou com massagens cardíacas e um boca-a-boca. Agora entendeu porque eu queria matar aquele desgraçado?

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