15 de agosto de 2005

SOBRE MINHA MACONDO

Que me desculpe o Luizinho Lucas, mas, por falta de inspiração, vou contar "causos" da Usina Junqueira... Espero que ele goste e não retalie, por favor. Como já disse, quem leu Cem Anos de Solidão e conhece a Usina Junqueira faz uma relação óbvia entre esta última e a Macondo do primeiro. Há fatos que ocorreram só lá e que dona Altiva, minha doce e saudosa mãe, fez questão de transmitir ao filho que escrevia no jornal. Um deles, lembrava ela, envolvia uma tia minha que atualmente reside em Igarapava, costureira famosa lá. Pois bem: as casas da Usina, em sua grande maioria (principalmente a chamada "Colônia Nova", englobando as ruas 2, 3, 4 e 5), tinham um porão falso. A sala e os quartos tinham como piso tábuas corridas e, por baixo, um oco. Dependendo da casa, chegava a mais de metro e meio. Pois era numa casa destas (exatamente na rua quatro) é que se realizava um concorrido velório. Sala cheia, tábuas já gastas e, com o entra e sai, foram cedendo. Minha tia, irmã de meu pai, ao lado do caixão, sem perceber o perigo que corria. Pois bem, à certa altura da madrugada, aconteceu o inevitável: o piso cedeu e caiu o caixão, defunto e algumas pessoas no buraco que ficou. Um gritou: o defunto tá vivo. Isso bastou para o pandemônio. Quem estava na sala, queria sair; quem estava fora, queria entrar. E como só havia uma porta e uma janela na sala, imagina o que se seguiu: um empurra-empurra geral, os desesperados de dentro se desesperando ainda mais com os berros da minha tia, que acabou debaixo do defunto e gritava que ele estava agarrando ela; e os curiosos de fora querendo ver o que acontecia. Com muita gente machucada, esfolada e estropiada, algum tempo depois, é que se deram conta: o chão cedeu, levando para o buraco que ficou o caixão, o defunto e a infeliz da minha tia que, depois disso, sempre que vai a um velório, guarda uma distância razoável do esquife. Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, né?

Nenhum comentário: