15 de agosto de 2005

A SERRARIA

Na primeira vez em que estive no Spa Med Campus, passei a ser chamado de serraria, graças a um paciente que dividiu o apartamento comigo por apenas uma noite. Era setembro de 1996 e, na primeira semana, fiquei sozinho no apartamento. Um certo dia chegou um paciente, de quem já falei aqui: aposentado na Vokswagen (ou Ford) de São Bernardo do Campo, foi pro spa perder alguns quilinhos. Resolveram colocar o homem no meu apartamento. Ele chegou, se apresentou e foi logo perguntando: "você se incomoda com ronco? É que eu ronco muito e acabo perturbando". Aí foi minha vez de retrucar (já tinham até gravado meu ronco no jornal e eu conhecia meu ronco, agravado por uma apnéia): "olha, acho que eu é que vou acabar incomodando você com meu ronco. Pior do que uma serra!". Ele disse que não se incomodava nadinha. Pois bem, acho que ele sofreu naquela única noite. Porque, quando eu acordava (e isso acontece várias vezes na noite por causa da apnéia) via o pobre rolando na cama, tentando dormir: tentou se esconder debaixo das cobertas, depois afogado embaixo de um travesseiro e até com fones de ouvido. Pelo visto, nada adiantou, porque no dia seguinte, logo de manhãzinha, ele conseguiu uma nova vaga, arrumou as malas e se mudou. Depois do almoço, na casa-sede, foi taxativo: "Rapaz, você não parece uma serra, não. É uma serraria inteira!". Depois do episódio, fiquei o meu período ali internado, sozinho, em um apartamento duplo, porque ninguém estava a fim de dormir ao lado de uma serraria!

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