15 de agosto de 2005

QUATRO DÉCADAS!

Olhando para trás, vejo hoje que nenhuma experiência de vida pode ser considerada em vão. Os encontros que mantivemos sobre a Terra são de suma importância para o nosso desenvolvimento, principalmente moral. Minhas mais remotas lembranças levam-se ao aconchego do abraço morno e carinhoso de minha mãe. Dona Altiva (assim todos a chamavam) se preocupou comigo até os meus trinta e um anos, quando sua presença física cessou aqui na terra. Mas a certeza de sua companhia astral acaba nos levando a, pelo menos, nos conformar com a tirana morte que nos priva dos entes queridos. Com ela, aprendi que humildade não traz em seu bojo a horrenda humilhação. Deu-me ainda as bases para a sustentação de uma vida honesta existência afora. De meu pai, trago ainda impressa na retina a sua imagem severa e de retidão exemplar. Sêo Sebastião (para os amigos) ou Nenê (para pais, esposa e irmãos) também pôde me ensinar muito dentro do pouco estudo que teve. Também ele mostrou-me o valor da honestidade e da importância do trabalho. Durante toda a vida, trabalhou em uma empresa apenas (até se aposentar) e, mais tarde, teve dois empregos antes que a parca o levasse de nós. Com meu pai, aprendi ainda a felicidade de fechar os olhos, recostar a cabeça no travesseiro e dormir o chamado sono dos justos, sem nenhum remorso. Dos meus irmãos (cinco ao todo, hoje reduzidos a uma irmã, com a partida de quatro deles) fui aprendendo a me relacionar com os que me cercavam e moldando o espírito para a seqüência dos anos. Com o estourado Eurípedes, aprendi a necessidade da ponderação; com o passional Hamilton, vi que os impulsos devem ser refreados; com o intelectual Wilson, entendi a necessidade do saber; com o festeiro Gerson, vi que a vida não se resume apenas a comemorações e festas; e com a alegre Luci vi que muitos problemas podem se esconder atrás de um sorriso. Destes, vieram cunhadas, cunhado e sobrinhos, vários. Hoje, vejo sobrinhos-netos ensinando-me a amar ainda mais. Olhando para trás, ainda vejo que recebemos o que precisamos para levar o fardo da existência em trilhos desimpedidos. Em Elaine, a mulher que escolhi para compartilhar a seqüência de minha vida, encontrei o porto seguro e o amor puro que só as criaturas predestinadas sabem distribuir. Em Adrielly e Ariane, encontrei a ventura da paternidade e em cujos beijos doces sinto que o amor deve existir sem cobranças: quem ama não exige mas acaba recebendo o que precisa para manter acesa a chama por toda a eternidade. A jornada pela vida ainda prossegue, com os amigos que conquistamos e mantemos, os quais acabam se tornando mais que isso, chegam a ser irmãos e pais por causa das afinidades e dos sentimentos que se avolumam a cada dia que passa. Um deles conheci há quase 25 anos. A partir daí, a colaboração mútua e diária consolidou uma relação fraternal, que extrapolou a relação patrão-empregado. No jornalista Corrêa Neves (a quem sou grato por toda a vida e ele conhece bem as razões) tive acima de tudo, um professor, do qual (creio) fui um aluno aplicado; nele visualizo hoje mais do que um amigo, um pai. E com ele aprendi tudo o que preciso para exercer o meu ofício. Bebi, como um viajante sedento no deserto, as ricas experiências e lições de uma vida profícua. A admiração também nos aproxima. Admiro dona Sônia pela sua capacidade, inteligência e presença de espírito. Com ela, aprendi que não devemos esconder os sentimentos; antes, precisamos nos expor, colocar para fora tudo o que sentimos, extravasar as nossas mais íntimas preocupações. E, através de seus textos, nos quais coloca com brilhantismo sentimentos, sensações e idéias, dona Sônia acaba fazendo-nos retornar no tempo, revivenciando experiências que acabam nos ensinando ainda mais. Além de todos os irmãos legados pelos laços de sangue, há alguns que a vida nos coloca à frente. Tenho em Júnior um destes irmãos, que conheci pequeno, vi-o crescer fisica e moralmente, hoje compartilhando com ele as mesmas situações que, com seu pai, dividi duas décadas atrás. Vi Júnior adolescer, amadurecer, casar-se com Adriana e tornar-se pai da Júlia. Acompanhei sua vida até aqui e creio que muito mais vem pela frente. São experiências que não se esquecem e nem se descartam. E as amizades se multiplicaram, no decorrer dos anos. Amigos de infância, como o José Fernando (que acabo reencontrando, graças a esta Internet), amigos de trabalho, como o Waltinho, amigos da vida, como a Heloísa. Nestes três, nomeio todos os outros que apenas uma página seria pequena para citar. E assim, olhando para trás, vejo que já cumpri a missão de todo homem: plantei uma árvore, tenho duas filhas e escrevi um livro. Trocando em miúdos: plantei uma árvore de raízes sólidas e de exemplos múltiplos, a qual venho cultivando no coração das duas filhas que a vida me deu. Quanto ao livro, a cada dia escrevo uma página e que colocarei um ponto final o dia em que, definitivamente, fechar os olhos para o mundo terreno e encarar o infinito astral. Quanto ao título deste texto, acho que o leitor merece uma explicação: senti a necessidade de externar o que vem me passando pela cabeça nos últimos dias, com a passagem do meu aniversário de quarenta anos, 26/02/2002.

Crônica publicada pelo "Comércio da Franca" no dia 22/02/2002, quatro dias antes que eu completasse 40 anos, a qual, com algumas correções, transcrevo aqui neste blog.

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