20 de agosto de 2005

FRANCA PERDE UM DEFENSOR APAIXONADO E INTRANSIGENTE

Hoje, vivo um momento de tristeza, profunda angústia e imensa saudade. Afinal, vai-se o amigo-mestre-orientador-colega-irmão (e tudo o mais que sirva para definir quem, em 25 anos de convivência foi tudo menos patrão), a quem conheci exatamente num sábado, no dia 28 de junho de 1980. Corrêa Neves deixou-me, já de saída, uma forte impressão. Em cada palavra, cada ato, a sua energia transbordava. Já na segunda-feira, dia 30 de junho (aniversário do jornal) iniciava eu minha trajetória no jornal, tendo contato diário com o grande jornalista que sabia da importância do veículo que dirigia com paixão e energia. Afinal, era um dos primeiros a chegar pelas manhãs ao prédio da rua Ouvidor Freire e só saía nas primeiras horas da madrugada.
Muito do que permeia nas páginas do Comércio é devido a Corrêa Neves: a defesa intransigente das coisas da cidade; a luta pelo progresso de Franca e a busca da verdade, esteja onde estiver e doa a quem doer. Corrêa Neves, nesse tempo todo (mais de 25 anos!), deu-me lições valiosíssimas que orgulhosamente vou levando vida afora. Uma delas: não se deixar ameaçar. Um dia disse, em manchete do próprio jornal, quando era presidente da Associação Atlética Francana: “não aceito pressão nem faca no peito”. Capaz de gestos de generosidade espontânea, nunca foi de se dobrar diante de chantagens, ameaças ou pressões de qualquer tipo.
Parte de minhas lembranças, hoje, traz-me como um filme Corrêa Neves chegando ao jornal, madrugada ainda, para conferir a impressão e a distribuição, orientando e admoestando os garotos responsáveis pela entrega dos exemplares aos assinantes. Ele era assim: chegava na madrugada e só ia embora no final da noite. Fazia questão de acompanhar todos os detalhes da edição, conferindo não só as matérias como também o layout das páginas e o boneco da edição do dia seguinte.
Na década de 80, era possível encontrar o jornalista Corrêa Neves na sala do escritório, que era anexa ao balcão de anúncios, ou então em sua sala, quase sempre de porta aberta, justamente na entrada do jornal no período noturno. Ali, recebia políticos (como os ex-governadores Laudo Natel, Franco Montoro, Orestes Quércia, Mário Covas; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que por vários anos foi colaborador do jornal e muitos outros), além de amigos e pessoas comuns, que o procuravam para relatar fatos, apontar problemas na cidade ou apenas pessoas comuns.
Sempre foi possível vê-lo andando pelas ruas do centro, conversando com amigos na praça Barão, tomando um café ou mesmo observando a movimentação de vendas do Comércio nas bancas. Nunca conseguia andar muito tempo: sempre alguém o interpelava, só para conversar ou comentar sobre algum assunto que o jornal publicara. Uma pessoa sem receios, com a certeza de que estava fazendo o que gostava, da forma como queria.
Em pouco mais de trinta anos, transformou o Comércio num dos principais jornais do Interior de São Paulo. Buscando sempre a verdade, por várias vezes encontrou resistências e movimentos contrários que nunca o abateram: fizeram-no mais forte para defender a cidade e a região. Em sua trajetória, teve o necessário respaldo em dona Sônia, a esposa que o acompanhou em todos os momentos do jornal, compartilhando os momentos bons e os difíceis que o Comércio enfrentou sob o seu comando, com a qual sempre comungou os mesmos ideais de verdade e luta por Franca. Tem em Júnior o seu continuador, com a mesma tenacidade e energia que sempre empregou durante sua vida. E em André, filho caçula, que preferiu seguir outros caminhos que não a imprensa mas que traz a marca da persistência que o pai sempre carregou.
Amigo dos amigos e ferrenho defensor da verdade, Corrêa Neves deixa uma lacuna que dificilmente será preenchida, tanto na imprensa francana como também no coração dos que o conheceram. Qualquer homenagem que se faça é pequena diante da grandeza do jornalista que, um dia, dizia-se magoado com a ingratidão e afirmava, orgulhoso: “O que eu fiz foram conquistas minhas para a cidade; não foram favores...”
Assim, não poderia deixar de externar a gratidão por tudo o que recebi dele nestes 25 anos e alguns meses, não só no aspecto profissional mas também no campo particular e familiar. Um dia, ainda, Franca vai saber mensurar a sua importância e render-lhe um preito de gratidão ao grande jornalista, ao grande amigo e ao grande batalhador Corrêa Neves.

PS.: Este texto foi publicado na edição de 19/08/2005 do Comércio da Franca, uma simples homenagem a uma pessoa que posso descrever como grande amigo, grande mestre, um quase pai-irmão. Ele faleceu no dia 18 de agosto, depois de seis meses em tratamento de uma hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro), tendo passado por três intervenções cirúrgicas. Tivemos uma convivência próxima nos últimos 25 anos e sua ausência, com certeza, vai ser profundamente sentida e nunca superada. À esposa, Sônia, aos filhos, André e Júnior, e à neta, Júlia, que Deus lhes dê coragem e força para superar esta perda irreparável.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi...como ja disse o Brasil precisa mais de pessoas assim como o Corrêa Neves,pessoas de carater sincera e honesta...em conhecer pessoas assim e que nao deixamos de acreditar no ser humano ne...beijos ....Hebe