7 de junho de 2011

BOLINHAS MORTAIS

Tem histórias das quais me lembro que minha irmã (da família Ribeiro da Usinas Junqueira, sobramos apenas eu e ela) esqueceu-se completamente. Algum tempo atrás, conversando com ela, lembrei-me de quando passamos por um aperto danado, mas a Luci nem se lembrava. Era final da década de 1960, eu tinha sete anos (mais precisamente em 1969). Meu pai estava trabalhando, meus irmãos fora de casa e mamãe também não estava em casa. Tínhamos algumas bolinhas de aço, que meu pai levava para brincarmos (eram de rolamentos) como bolinhas de gude fossem. Porém, imaginávamos que eram balas (muito pobres na época, não tínhamos balas sempre). Na época, surgiu a notícia de que uma criança tinha morrido (não sei se em São Paulo ou outra grande cidade do País) depois de engolir uma tampinha de caneta esferográfica Bic. Crianças ainda (a Luci tinha uns oito ou nove anos), não sabíamos discernir uma coisa da outra. Pois a Luci colocou uma das bolinhas na boca, fingindo que era bala, e acabou engolindo a bolinha de aço. Quando ela me falou que tinha engolido, eu confundindo tampa de caneta com bola de gude (e a bolinha de aço era grande como uma), destampei a chorar, falando que ela iria morrer. Vendo meu desespero, a Luci falou que não tinha engolido. Eu parava de chorar na hora e retomava os soluços quando ela voltava a falar: "engoli sim". E por aí foram várias vezes: "engoli, sim" e "engoli não". E o choro desesperado vinha e voltava. Escondemos o fato de minha família e só me acalmei, perdi o medo de perder aquela irmã com a qual era muito ligado (eu era tão pequeno que ela só me chamava de "Coisinha") quando ela me disse que tinha ouvido o barulho da bolinha caindo no vaso sanitário, um ou dois dias depois. O desespero foi tão grande que nunca mais brincamos de "balinhas" com as bolinhas de aço. Só com os torrões de açúcar que meu pai levava de vez em quando (o açúcar era peneirado e os torrões, pequenos como balas mesmo, eram descartados). Foi um sufoco que não desejo para ninguém. Hoje, quarenta e dois anos depois, lembro-me deste fato como cômico, mas que na hora foi desesperador e não desejo esta sensação para ninguém.

3 comentários:

gleice ribeiro toniato disse...

hahahaha minha mãe é muito louca mesmo hehehe até imagino a cena....bju amu vcs

Elisa Ribeiro disse...

Tio dei muita risada....imaginando minha mãe com aquela cara de sapeca que ela tem..!!!
Bjão enorme é muito bom ouvir suas histórias!
Bju

Sidnei Ribeiro disse...

Bom mesmo foi a Luci me enfiar uma agulha de crochê na perna, o ferro de passar quente na barriga e 'otras cositas mas' que só irmãos podem contar...