7 de julho de 2010

SOU UM 'DINOSSAURO'!!!

A edição de 30 de junho do 'Comércio da Franca' trouxe uma edição especial sobre os 95 anos do jornal, os novos desafios do Grupo Corrêa Neves de Comunicação (GCN Comunicação), que estréia portal na Internet e que passa também a produzir material para a TV BEM (Canal 10 da Net TV daqui), somando-se ainda à Rádio Difusora, líder de audiência na cidade. Na mesma edição, além de um artigo meu, uma entrevista, realizada pela repórter Patrícia Paim, destacou os meus 30 anos de 'Comércio' (meu primeiro dia de trabalho aqui foi a 30 de junho de 1980). Abaixo, reproduzo a entrevista e o artigo publicados.

Sidnei Ribeiro: o ‘dinossauro’ do GCN

Há 30 anos no jornal Comércio da Franca, o editor de Brasil Sidnei Ribeiro conta um pouco da história de bastidores de um dos grupos de comunicação mais antigos do Brasil

Patrícia Paim
da Redação

Nos últimos anos, o Comércio da Franca passou por muitas transformações. Cresceu, mudou de endereço, adquiriu novos equipamentos, ingressou na era da internet, comprou uma rádio, contratou novos funcionários, entre outras mudanças. Sidnei Ribeiro, atual editor do caderno Brasil/Mundo, acompanhou tudo isso. Pode-se dizer que ele assistiu a toda evolução de camarote. Afinal, são 30 anos de casa. Entre os funcionários, ele é a pessoa certa para contar cada passo de toda essa evolução. Ribeiro se recorda de tudo. Cada detalhe.
Tantos anos na mesma empresa lhe renderam momentos de sufoco, dificuldades, mas também de muitas emoções. Ele também não se esquece de momentos engraçados que quando aconteceram pareciam mais com uma “tragédia”. Com tantos anos de casa, Sidnei Ribeiro se considera um “dinossauro”. Mas faz questão de ressaltar que não é na idade e sim na experiência. “Estou há 30 anos na mesma empresa e ainda encontro ânimo para sair de casa para trabalhar. A diferença é que faço o que gosto”.
Ao contrário dos demais repórteres e editores, Sidnei Ribeiro fica sozinho em uma sala pequena em um cantinho da redação. Quem passa em frente a sala tem a impressão que está isolado. Não é bem assim. Ribeiro garante que prefere desta forma. Diz que não conseguiria se concentrar em meio ao burburinho da redação. Mas ao mesmo tempo não consegue trabalhar sem ter um barulho do lado. “Para trabalhar preciso de barulho. Se não for a televisão é o rádio”.
Enquanto não está trabalhando, Sidnei gosta de se dedicar aos livros e filmes. É também um profundo conhecedor das novelas brasileiras. “Já cheguei a assistir 20 filmes no final de semana e também não perdia uma novela. Agora, por conta do meu horário, isso não é mais possível. Acompanho pela internet”. E por falar em internet, Ribeiro adora estar conectado: casou-se duas vezes com mulheres que conheceu pela rede.

Comércio da Franca - Quando você começou no jornal?
Sidnei Ribeiro - Comecei a trabalhar em junho de 1980, exatamente no dia do aniversário do jornal, como revisor. Desde então já fiz de tudo. Fui repórter, fotógrafo, artefinalista... Tive que aprender. O processo era bem diferente: diagramação e arte final eram feitas com papel, tesoura e cola. Nos dias de hoje o jornal é todo informatizado. Na época usava rádio para conseguir me informar sobre o que estava acontecendo no mundo. Hoje temos internet e redes de notícias que nos auxiliam. Com os instrumentos atuais se priorizam muito mais a criatividade, habilidade e capacidade pessoal de cada um. Temos condições de explorar mais a notícia.

Comércio - Qual o maior sufoco que você viveu dentro do jornal?
Sidnei -
Foi na transição do sistema que a gente trabalhava para a informatização total do jornal em 1996. No primeiro dia não saiu o caderno de Classificados. Na verdade, saíram os anúncios do dia anterior porque deu problema no novo sistema. Foi um grande sufoco. Então resolvemos colocar os anúncios do dia anterior e avisamos que o novo sairia no dia seguinte.

Comércio - Para você qual foi o momento de maior emoção?
Sidnei -
Tive uma grande alegria quando o jornal adquiriu a rádio Difusora. Era um sonho do “sêo” Corrêa (jornalista Corrêa Neves, falecido em 2005). Antes dele comprar o jornal havia tentado conseguir a concessão da rádio Difusora, mas não deu certo. Outra grande emoção aconteceu quando foi inaugurada a atual impressora e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deu partida na máquina (impressora rotativa importada). Foi uma das grandes emoções da minha vida.

Comércio - E histórias engraçadas, você tem lembrança de alguma que marcou?
Sidnei - Antigamente, acontecia muito de se trocar foto de lugar. Uma vez saiu na coluna social a foto de uma vaca e de uma senhora da sociedade. Na legenda dizia que a “a mulher era esposa ilustríssima de fulano de tal” e na outra dizia “essa linda vaquinha ganhou um concurso”. Só que trocaram as legendas. A vaca virou a esposa do homem e a mulher a vaca que ganhou o prêmio. Tivemos que pedir muitas desculpas no dia seguinte para os envolvidos da história.

Comércio - É lendário, entre o pessoal do jornal, a capacidade que você de guardar informações de novelas e filmes. Como é isso?
Sidnei - É com novela, filme, música e com todas as coisas de que eu gosto. Graças a Deus sempre tive uma memória privilegiada para reter informações; lembro-me de coisas de quando eu tinha cinco anos de idade. Se vejo algo de que gosto, gravo e não me esqueço mais. Atualmente, estou há quase um ano sem ver novelas por causa do meu horário no jornal. Já filmes vejo pelo menos dois por semana. Mas já teve tempo que eu assistia até 20 filmes num único final de semana.

Comércio - E sua paixão pelos livros?
Sidnei - Gosto muito de ler. Fui muito influenciado por minha mãe, que lia muito. Geralmente leio três livros ao mesmo tempo. Dependendo do meu estado de espírito paro um e avanço no outro. Não tenho ideia de quantos já li, mas só da Agatha Christie foram mais de 70.

Comércio - Você casou duas vezes com mulheres que conheceu pela internet. Conte um pouco dessas histórias.
Sidnei -
A primeira, conheci em uma página de relacionamentos. Deixei meu perfil e a pessoa, que era de São Paulo, gostou e entrou em contato comigo. Começamos a trocar mensagens e quando vi a gente já estava casando. A segunda, Elaine, conheci em uma sala de bate papo. Passamos a conversar pelo MSN e em pouco mais de um mês estávamos morando juntos e assim estamos até hoje. Se é que alma gêmea, ela é a minha.

Comércio - Como é essa relação de décadas de vida como jornal?
Sidnei -
O Júnior (Corrêa Neves Jr., diretor-executivo do GCN Comunicação) me deu recentemente um livro chamado O diário do último dinossauro, do Joel Silveira, que é um dos maiores jornalistas que o Brasil já teve. Na hora achei que ele estava me chamando de velho. Mas não é. Eu até me assumi como dinossauro do jornal. Mas não no sentido de idade, mas de experiência.

Comércio - Em algum momento pensou em desistir de tudo?
Sidnei - Houve momentos em que eu quis parar por conta de problemas pessoais que eu estava vivendo. Mas acho que não conseguiria porque é a única coisa que gosto de fazer. Jornalismo, antes de tudo, é um dom. Se você não tiver dom para uma determinada coisa, você não passa 30 anos fazendo isso.

Trinta anos de evolução

Por Sidnei Ribeiro

Como as coisas mudam em trinta anos! Quando comecei aqui no Comércio, em 1980 (exatamente no dia 30 de junho, uma segunda-feira), o computador era uma mera esperança para o futuro. Existiam alguns mainframes enormes, utilizados por empresas e cuja memória eram cartões perfurados. No jornal pós-linotipo existiam apenas as chamadas composers IBM, cuja “espantosa” memória era de tão somente cinco mil toques. Ou seja: o digitador só conseguia escrever cinco mil letras (e espaços) por vez, tendo que imprimir o material para “descarregar” a memória. Uma simples queda de energia no meio do processo, tudo era perdido: tinha que se começar de novo.
Naquela época, fazer jornal era um trabalho extenuante, totalmente manual. Era uma profusão de papel, tesouras, colas, réguas e canetas. Qualquer tipo de caderno extra - como os de aniversário do jornal e da cidade - deveria ser iniciado cerca de 15 dias antes e a equipe dobrar: depois de terminado o jornal do dia, iniciávamos as páginas especiais por mais algumas horas. No decorrer dos dias, acabávamos com tudo e a montagem dos fotolitos e a impressão se davam fora do horário normal dos dois setores.
O que hoje, com os computadores, é concentrado em dois ou três programas, naquela época eram setores completamente diferentes: a máquina que compunha os textos (que saíam numa tira comprida, justificados) não era a mesma que fazia os títulos. Quem diagramava a página (definindo onde cada matéria, cada foto ou cada anúncio iriam, além de calcular o tamanho dos títulos) não era a mesma pessoa que lhe dava a finalização. Quem imprimia, gravava as chapas, mas tinha que esperar que o pessoal da fotomecânica montasse os fotolitos (um filme que servia para “gravar” a chapa, num processo meio parecido com os das fotografias em papel), corrigindo os defeitos e falhas que porventura passassem pela arte-final - ou pestape (paste up), como chamávamos.
Naquela época, ainda nos enrolávamos com os “leads” (o que chamamos hoje de abre de texto) e tínhamos que determinar se os títulos teriam “caixa alta” ou “caixa baixa” (maiúsculas ou minúsculas). E os sinais que a revisão colocava nos textos para que o digitador fizesse as devidas correções? E os estiletes que “abriam janelas” na arte final, onde deveriam ir fotos e anúncios? E o ABDeck (abideque, como chamávamos), que pintava os fotolitos eliminando manchas e riscos que não poderiam ser impressos? E a fita (adesiva) vermelha, que tinha a mesma função? E a aplicação de retículas na fotomecânica, para que as fotos não ficassem com aparência de fotocópia? E a velha tituleira Morisawa, uma japonesinha bastante complicada e que também foi abandonada com o advento da informática?
Quando entrou o primeiro computador no jornal, híbrido de composer e computador, foi a revolução: tinha a surpreendente capacidade de armazenamento de 12 mil toques e permitia ainda que se gravasse o material em disquete (aqueles grandões, de 5,25 e capacidade de 160 Kb). Isso no final da década de 1980. Depois vieram outros semelhantes e, em meados da década de 1990, a verdadeira revolução: um XT com 256 Kb de RAM e disco rígido de 10 Mb. A partir daí, fomos migrando: 286, 386, 486 e Pentium. Hoje, dezenas de máquinas dominam todos os departamentos do jornal, rodando em rede e quase nenhum com menos de 1 Giga de memória e HDs superiores a 160 Gb. Uma grande evolução que acompanhei de perto, adaptando-me. Hoje, ainda fazemos as páginas do jornal, mas sem a manipulação de papel, cola, tesouras. Ainda temos as chapas na impressora, mas sem que se passe por pestapistas, operadores de fotomecânica e montadores de fotolitos e chapas.
O processo ficou bem mais limpo, rápido e eficiente. O jornal muito mais bonito e mais abrangente. O número de páginas, nestes 30 anos, cresceu das oito daquela época para uma média de 32 durante a semana. Das dez de domingo para 80. Uma evolução que reflete as várias revoluções deste tempo todo. E eu fico aqui, orgulhoso, acompanhando e participando de tudo isso. Deixando de lado a jurássica máquina de escrever, substituída pelo teclado eletrônico. A tela de LCD tomou o lugar da folha de papel em branco. Mas uma coisa ainda permanece: o calor humano, as relações interpessoais e, acima de tudo, a alegria que tenho de todos os dias chegar ao moderno prédio do GCN Comunicação e vislumbrar os semblantes de sempre (dona Sônia, Júnior, Dulce e Sandra) e outros mais recentes, mesmo que de uma década ou mais (Joelma e Sérgio) e tantos outros colegas, como Denise, Ferreirinha, Fernando entre mais dezenas. Tudo isso me envaidece, alegra e torna meus dias mais felizes. Como há 30 anos, quando iniciei meu primeiro dia por aqui... E ainda sinto, mesmo cinco anos após a sua morte, a força das idéias, dos ensinamentos e dos sonhos do jornalista Corrêa Neves percorrendo todos os departamentos do GCN Comunicação, o que faz o Comércio, em particular, ir para a frente, evoluindo sempre e rejuvenescendo cada vez mais com o correr dos anos.

4 comentários:

Anônimo disse...

É bom saber que que você está bem e voltou a postar em seu blog. E com alegria. Um grande abraço.
Luizinho Lucas

Sidnei Ribeiro disse...

Pois é, meu amigo. Estou de volta. Agora só falta você também com suas lembranças e com as fotos da Usina. Estou esperando, heim?

Lívia Inácio disse...

Esse seu texto emociona!

Sidnei Ribeiro disse...

Brigado pela visita e também pelo comentário. É que a emoção é parte da nossa vida e quanto mais vivemos, mais emocionais nos tornamos. Hoje, choro muito mais do que chorei no restante da minha vida. Acontece com todos...