Para todos os que se sentem discriminados, abalados, deprimidos e subestimados... E para quem nasceu e quer conhecer histórias e personagens da Usina Junqueira. E com um pouco de humor, também, que ninguém é de ferro!
20 de maio de 2006
DE PESCARIAS E CAÇADAS
Alegria, para a molecada da Usina Junqueira, era pescar no "Paicambu" (era assim que todos chamavam), um ponto no Rio Grande onde todo o esgoto das residências era atirado. Ali se pescava muito, principalmente lambaris que muitos usavam como iscas mas que, para mim, serviam mesmo para exibir em casa o quanto tinha pescado. Aliás, é bom dizer, nunca fui para o "Paicambu" sozinho, embora fosse fácil chegar lá e não se andasse mais do que um quilômetro. Obediente, ia sempre em companhia de meu pai. E foi dentro de um supermercado que acabei lembrando-me das pescarias e de papai. Estava com a Preta e a Drica fazendo compras quando vi, no balcão refrigerado de peixes, algumas bandejas com piaus, um peixe característico daquele trecho do Rio Grande que era uma das alegrias de minha infância. Quando pescava com papai, ele sempre pescava vários piaus e piaparas, de tamanho médio, os quais mamãe preparava com a competência que sempre teve na cozinha. Voltando àqueles tempos, lembro-me que eu e minha irmã disputávamos para ver quem pegava mais lambaris de rabo vermelho, que eram mais raros, acho eu. A maioria eram lambaris de rabo amarelo, creio. Pois eu conseguia pescar também mandis chorões, bagres e cascudos, além dos já citados piauzinhos e piaparas. Um dos peixes que eram bem raros e fazíamos uma algazarra tremenda era uma espécie que tinha uma barata branca dentro da boca (sei lá qual era o nome do espécime). Depois de uma tarde pescando ali no "Paicambu", voltávamos para casa carregados, pois a pescaria era sempre abundante. Centenas de lambaris graúdos (os pequenos eram devolvidos à água, tal era a abundância de peixes ali), além de cascudos, piaus, bagres e mandis, entre outros, eram despejados no tanque e ali tínhamos a árdua tarefa de limpar os peixes: mamãe preparava o petisco, mas os pecadores tinham que limpar. Era uma festa que nunca mais, depois que deixamos a Usina, pudemos repetir. Lembro-me que, de vez em quando, um dos Guitarraras (pescadores exímios) presenteava mamãe com um dourado ou papa-terra de bom tamanho, que se transformavam no peixe ao molho de tomate mais gostoso que já comi na vida (e que ainda vou conseguir fazer igual, prometo sempre!). Outra vez, mamãe recebeu uma "fieira" de rolinhas abatidas por um caçador da Usina (também acho que era um dos Guitarrara) que ela preparou depois que tiramos todos os chumbinhos das aves. Ali na Usina comi também rã, preá e até tatu, que minha mãe preparava sem reclamar mas nunca comia. Tinha uma panela que ela usava somente para fazer estas carnes exóticas e onde não cozinhava nada que ela fosse comer.
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