29 de dezembro de 2005

DE NATAIS E ANOS-NOVOS


Desculpem-me os amigos, mas a coisa esteve meio feia nas últimas semanas. Passei por uma série crise de cabeça oca: nada me vinha e nada me impelia a encarar o teclado e voltar a postar por aqui. Só hoje tive ânimo e vontade de voltar a escrever e postar, depois de uma passada no blog do Luizinho (as fotos novas da Usina deixaram-me com o coração apertado) e no da Sonia, um prazer que eu estava esquecendo. Pois esta época do ano acaba me deixando bastante "down", pra baixo mesmo, ao lembrar Natais passados e alguns Anos-Novos, sendo um deles bastante trágico, marcante e triste. Pois antes, vamos ao Natal. As grandes lembranças que tenho são do almoço de domingo em nossa casa na casa número 20 da rua 4 da Usina Junqueira. Ali, chegavam vovó, vovô, tios, tias e primos, a maioria deles da parte do meu pai. Mamãe, no seu fogão de lenha, fazia maravilhas, como uma macarronada divina, frangos assados maravilhosos e um pernil de porco inesquecível. Sem nos esquecermos do arroz de forno (era tradicional no Natal e Ano Novo em casa) e outras iguarias, que desembocavam no melhor manjar de coco que já comi na vida como sobremesa. Mas a memória se aviva quando penso na véspera do Natal, quando recebíamos os presentes do Papai Noel (mais tarde, fiquei sabendo que haviam dois: meu pai e o Bolão, figura bastante popular na Usina). Aí na foto eu devia ter entre quatro e cinco anos, quando ganhei o tratorzinho da foto. No ano seguinte, ganhei um jipe. Os dois da Brinquedos Bandeirante, como já não se faz nos plastificados dias de hoje. Quando o almoço de Natal era na casa da vovó, em Igarapava, o do Ano Novo era na nossa casa na Usina. Só este almoço marcava, porque não ficávamos acordados até tarde. Mesmo no Natal, éramos acordados com a chegada do Papai Noel. Porém, a tristeza do Ano Novo ocorreu no primeiro dia do ano de 1981. Meu irmão mais velho, Eurípedes, era policial militar em Minas Gerais e não pôde vir a Franca, onde já morávamos, para passar as festas com a gente. No Natal, tudo correu normalmente e, no Ano Novo, meus irmãos (Hamilton, Gérson e Wilson) decidiram fazer um churrasco em casa. Pois durante toda a madrugada, mamãe se mostrava bastante melancólica, numa tristeza que não era sua natureza, sempre expansiva e alegre. Era madrugada alta quando fomos dormir. Meu pai, que sempre acordava cedo, estava na manhã do dia seguinte no arremedo de jardim que tínhamos em frente de casa quando encostou um camburão da Polícia Militar. E um dos policiais desceu e perguntou se ali morava Sidnei José Ribeiro. Papai disse depois que ficara com a pulga atrás da orelha, porque no dia anterior eu chegara num opala da PM em casa (acontece que eu já trabalhava no jornal, tinha vários PMs no meu círculo de amizades e um deles, que estava de serviço e iria patrulhar meu bairro, me oferecera carona). Logo quis saber do meu parentesco com Eurípedes José Ribeiro e, com uma delicadeza de elefante numa loja de cristais, detonou a bomba: "O senhor é pai do Eurípedes. Olha, não adianta eu dizer outra coisa porque vocês vão chegar lá e saber da verdade: seu filho Eurípedes morreu!" E explicou que chegara ao nosso endereço graças ao cartão de Natal que eu havia enviado ao meu irmão mais velho. Todos em casa fomos acordados com a notícia e passamos o mais angustiante primeiro dia de ano de todos. Além de uma viagem de mais de 400km (meu irmão estava morando numa cidadezinha chamada Santa Juliana, próxima de Patrocínio de Minas), não conseguimos cumprir o pedido que o Pim (como o chamávamos, os demais o chamavam de "Babão") havia feito em vida, ou seja, ser sepultado no cemitério de Igarapava: não havia médico ali em Santa Juliana para assinar os documentos de permissão para a viagem. Até hoje Eurípedes está lá, no cemitério daquela cidadezinha, sob a placa de bronze que mamãe mandou confeccionar e levou um tempo depois.

5 comentários:

Anônimo disse...

Coisa terrível, Sidnei. Será que pega mal depois dessa eu lhe desejar um feliz Ano Novo?

Anônimo disse...

Confesso que estava preocupado, amigo. Ainda bem que voltou com a corda toda e com um texto para lá de emocionante, sem a pieguice dos comuns na escrita!!
gostei muito!!

Sidnei Ribeiro disse...

Cara Sônia, não pega mal não! A gente olha pra frente, sempre, buscando crescer, viver mais e sempre felizes. O passado nos ensina mas não deve nos escravizar, alguém já disse. Thiago, obrigado pela consideração e também por sua bondade com este humilde jornalista que gosta de contar histórias...

Caíla disse...

Gostei daqui!! um abração e aguardo novos posts!

Anônimo disse...

olá, tenho um desafio pra vc: http://ozultimos.blogspot.com/2006/01/virgin-e-seu-desafio.html
só não vale olhar as respostas....hehe
bjos