Para todos os que se sentem discriminados, abalados, deprimidos e subestimados... E para quem nasceu e quer conhecer histórias e personagens da Usina Junqueira. E com um pouco de humor, também, que ninguém é de ferro!
6 de novembro de 2005
DIFERENÇAS NA CRIAÇÃO
De vez em quando explico pra Drica: quando éramos crianças, isso nas décadas de 60 e 70, nós não tínhamos muitos direitos não... Como a própria dona Altiva dizia: a mãe falou, a água parou. O mesmo servia para os pais. Chamar os mais velhos de senhor não era deboche, era questão de respeito. Sobre tudo os pais eram consultados. E o veredito deles não tinha contestação. Ainda hoje penso e procuro uma razão para que certas coisas nos fosse proibidas. Como aceitar alguma comida na casa de conhecidos. Eles nos ofereciam algo que queríamos muito e então a gente olhava para mamãe. Um imperceptível movimento de cabeça nos privava da iguaria. Meu pai era ainda mais agressivo. Na Copa de 70, eu tinha apenas oito anos e acompanhei o meu pai na torcida, em todos os jogos, na casa de um vizinho. Era o famoso "televisinho", do qual só nos livramos em 1976, quando já morávamos em Franca. Ao final de um dos jogos do Brasil, meu pai foi convidado pelos anfitriões para degustar (argh!) um chouriço ("iguaria" feita de sangue e gordura de porco, dentro das tripas do suíno, e depois cozida). Meu pai adorava. Eu, do contrário, não podia nem ver. Pois ao me oferecerem um prato com o dito cujo, respondi na boa: "obrigado, não gosto"! E não é que, na volta pra casa, papai veio me dando um sermão dizendo que nunca poderia dizer que não gostava da comida que me oferecessem? Melhor seria dizer: "obrigado, estou satisfeito". Aliás, se papai nos desse alguma coisa, tipo um doce, éramos obrigados a aceitar. Ele dizia que estava dando e não oferecendo. Pra vocês terem uma idéia de como ele era... A frase preferida dele: "vocês só vão se sua mãe for", quando queríamos ir a algum passeio. Como mamãe trabalhava de sol a sol, na maioria das vezes nós (eu, Luci e Gérson, todos com menos de oito anos) ficávamos chorando e vendo meu pai privilegiar filhos de amigos e esquecer-se dos próprios. Quando crescemos, ele reclamava que nunca o chamávamos para sair e sempre estarmos chamando mamãe. Um dia acabei falando, mas ele nunca se conformou. A gente nunca teve voz ativa quando criança. Quando perguntávamos o porque de alguma decisão, invariavelmente respondiam: porque sim! Não havia democracia, direitos da criança, nada disso. Mas nem por isso deixamos de sermos crianças, vivermos despreocupadamente e sermos felizes. Porém, quando vejo hoje filhos tencionando mandar nos pais, impor suas vontades e, na maioria das vezes, "levando no nariz", percebo que na maioria das vezes a obediência cega aos nossos pais foi benéfica. Aliás, a gente vê hoje que eles tinham razão em muita coisa. Como nós temos hoje, mas dificilmente nossos filhos admitem isso. Como as coisas mudaram em três décadas, não?
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2 comentários:
oi...eu sei bem o que vc esta falando,com a gente acontecia a mesma coisa...bastava a minha mae olhar e a gente entendia o que ela queria dizer....hoje eu costumo dizer que so falta nos olhos cairem e nossos filhos nao entende...mais se vc pensar bem as coisas eram diferente,esta tudo mudado...vou tentar te explicar o meu modo de pensar em poucas palavras,o mundo esta diferente entao vc tem que acompanhar ele pra poder educar seus filhos,nao que vc nao va seguir tudo o que vc acha certo,mais por causa da violencia,das drogas e dessa tal da liberdade feminina,rsrsrs vc tem que se tornar amiga de seus filhos,vc tem que ter jogo de cintura principalmente quando a educaçao deles so depende de vc mulher,digo no meu caso..se vc quer manter seus filhos longe de tudo o que e errado,se vc quer que eles cofie em vc e nao numa pessoa da rua,vc tem que dar direitos a eles..mais tudo dentro do limites,nao acho certo vc decidir coisas importantes para eles,vc tem que orientar mostrar os dois caminhos para eles,o certo e o errado...e a decisao tem que ficar nas maos deles...para que mais tarde eles nao venham a ser infeliz por esse direito que vc tirou deles..sabe eu acredito e ensino minhas filhas de uma forma,que a minha liberdade começa,onde termina a sua...ensino que a amizade,o amor,o respeito e a confiança sao as melhores coisas que elas tem...nao quero que elas façam as coisas para agradar ninguem,mais sim que elas façam o que é certo para elas...pois muitas vezes eu fiz tudo para agradar as pessoas e nao fui feliz..pois o que era bom para eles,nao era para mim...se elas conseguirem agir assim,com certeza elas serao pessoas felizes....adoro as coisas que vc escreve,adoro estar aqui no seu cantinho...beijos para vc e para a preta..Hebe
Entendo que os antigos faziam o melhor que sabiam, mas até hoje odeio certas tiranias que me foram impostas. Não existe receita certa, Sidnei. Os filhos farão um dia o que quiserem. Eduquei os meus dois da mesma forma, deram dois tipos absolutamente opostos. E sabe de uma coisa? Me entendo melhor com o que fez as piores besteiras. Hoje tenho netas, duas morando em minha casa. Nada tradicionais, donas de seus narizes, mas grandes amigas minhas.
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