Ana Letícia, comentando o post anterior, chamou-nos (eu e meus irmãos) de capetas. E realmente, a gente não era mole, não! E a coitada da dona Altiva, nossa mãe, tendo trabalho para controlar aqueles seis filhos, um diferente do outro mas para ela tão iguais. Um dia ela disse que seus filhos eram como os dedos da mão: diferentes entre si mas a perda de um apenas seria dolorido para ela. E, como uma fortaleza, ela ainda enterrou três filhos e o marido. Um ano depois de morrer o terceiro filho, com apenas 34 anos (os outros dois morreram com 31 e 33 anos, respectivamente), também ela se foi, com certeza cuidar mais próximo dos que partiram e proteger do alto os que ficaram.
A partir do primeiro filho, o Eurípedes, ela viu que não seria nada fácil. A ele se seguiram o Hamilton e o Wilson. Quando estes cresceram mais, vieram em ordem o Gérson, a Luci e eu. Dois trios de capetas que, felizmente, dona Altiva conseguiu educar, criar e fazer se tornarem gente de bem. Pra completar o quadro, meu pai, molecão de tudo e inconseqüente. Quando nasceu minha irmã, dois dias depois do parto no banheiro (como contei dois posts abaixo), meu pai resolveu fazer uma experiência: jogou carbureto dentro do tanque de lavar roupas e abriu a água. Quando começou a ferver, atirou um palito de fósforo. Uma baita explosão rachou o tanque no meio, tirou minha mãe do resguardo para presenciar uma cena que seria hilária não fosse a seriedade da situação: meu pai, parado no meio do quintal, branco tal qual papel; Eurípedes, também "passado", sentado em cima de uma rodela de sabão que ficava curtindo no meio do quintal; Hamilton e Wilson, também, brancos e assustados.
Meu pai tinha noção de que o carbureto era inflamável (ele tinha uma lanterna que usava aquele combustível mal-cheiroso) mas quis ver o que aconteceria sem uma contenção da lanterna. Ainda me lembro do nosso tanque todo remendado e mamãe contando esta história.
Já o Eurípedes, totalmente inconseqüente, tinha uma brincadeira com meus irmãos que era coisa de um indivíduo completamente pirado. Amarrava mas mãos do Hamilton e do Wilson para trás, dava-lhes sucessivas rasteiras e ainda dizia para eles não chorassem "porque se mamãe vier aqui bate em nós". Um dia, ele inventou uma "caça ao tesouro" e fez até um mapa. No final da busca, tinha-se que deitar no chão e contar três palmos à frente do nariz. Wilson fez tudo e, quando contou os três palmos, desarmou uma armadilha armada em cima da laranjeira. Resultado: desceu meio tijolo da árvore que acertou meu irmão em cheio, nas costas. Meu irmão, sem fôlego, também teve que "engolir" o choro, "senão mamãe bate em nós", acrescentou Eurípedes, o Pim.
Eu, Gérson e Luci também aprontávamos das nossas. Cortamos os bigodes do Chaninho (que se dividia entre nossa casa e a de dona Varina), eu matei um franguinho querendo fazê-lo pular corda comigo, minha irmã quebrou a imagem de São Jorge em vidro, um xodó da minha mãe. Quase todo dia inventávamos uma. E isso foi até a pré-adolescência. À medida em que for me lembrando de mais alguma coisa, vou postando aqui.
5 comentários:
oi...e verdade,nossa vcs devem ter dado muito trabalho para sua mae,mais acima de tudo vcs derm foi muita alegria e orgulho para ela tbm..ja comentei com vc que admiro demais a forma que vc fala de sua mae,essa admiraçao e orgulho que vc transmite toda vez que vc fala dela...nao so dela como de seu pai e de seus irmaos...mais com certeza dela e mais forte...que linda familia vc tem,e essas lembranças vao te acompanhar a sua vida toda..parabens por esse lido coraçao e carater que vc tem,e com certeza muito se deve a educaçao e os exemplos que vc teve dentro de sua casa...beijos em seu coraçao...Hebe
Dona Altiva me lembra um pouco minha falecida sogra. Continue contando sobre sua família, é uma festa ler esses causos.
Quanto ao "cala a boca senão mamãe vem aqui e bate em nós", lembrei de um caso no colégio. Levei uma rasteira de uma de minhas melhores amigas, e o código ordenava aturar calada. Mas levei um tombo, me machuquei e não consegui deixar de gritar. A freira veio ver o que era, minha amiga teve um "mau ponto" na caderneta, e eu de joelhos diante da agressora, pedindo desculpas por ter gritado.
Cara, que irmao loooouco...quase explodiu a casa...ri muito aqui...Sua mae realmente e uma santa, minha mae tambem diz que tem 4 filhos que sao como os dedos da mao, todos diferentes...
Bjo da Dodo
Dona Altiva!!!Com marido químico de tanque, o menino Euripedes, engenheiro detonador de irmão - que imaginação e criatividade! Ainda bem que você resolveu canalizar esses dons familiares para a escrita. Saimos ganhando.
Sidnei, é a primeira visita, mas volto, seu texto é uma delícia.
Marilia
olá Sidnei, recebi teu e-mail, não entendí como quase toda a tua família faleceu. Mas sem levar em conta todos os problemas que infelizmente temos que passar, fiquei muito contente em saber de você, por isso resolví te fazer uma visitinha, e te deixar um abraço.
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