15 de agosto de 2005

GATO CHAMUSCADO

Minha mãe morou na Usina Junqueira praticamente toda a vida. Aos 15 anos, na década de 30, ali já residia e trabalhava como empregada doméstica. Em meados da década de 40, antes de se casar, morou e trabalhou na residência do "sêo" Chiquinho Barreto, que cuidava da agência dos Correios. Pois bem, naquela época, as casas tinham fogões alimentados a lenha, acoplados a um forno, sempre instalados na "cozinha de fora", uma espécie de varanda aberta, pra evitar o calorão na já senegalesca Usina Junqueira. Com minha mãe, trabalhava na mesma casa a minha tia, Ambrosina, irmã mais velha. Todos os dias, antes de acender o fogão, minha mãe tinha a preocupação de olhar dentro do mesmo pra ver se não havia gatos (por ser bem quente e protegido, era o local preferido dos bichanos para se esconder do frio da noite). Um dia, Ambrosina acordou como sempre: sonolenta, mal-humorada e distraída. Colocou a lenha fogão, atirou álcool e tascou fogo (sob a supervisão do sêo Chiquinho Barreto, de pijamas e robe, que sempre acordava demasiadamente cedo). Aí aconteceu o pandemônio: o fogo atingiu um gato que estava dormindo dentro do fogão e este, como uma bola de fogo, saiu por um dos buracos da trempe. Com os miados desesperados do bicho e o fogo, minha tia nem pensou duas vezes: desmaiou na hora, diante da visão. Sêo Chiquinho, então, assustadíssimo com a visão, saiu berrando casa adentro: "é o diabo! é o diabo!". O barulho (e que barulho!) chamou a atenção da minha mãe, que encontrou minha tia estatelada no chão, o sêo Chiquinho em estado de choque e um gato chamuscado saltando pelo muro urrando de dor! Depois deste dia, Ambrosina nunca mais se esqueceu de checar o fogão antes de acendê-lo.

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